Pessoalmente | Dia Internacional das Famílias
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Dia Internacional das Famílias

Na nossa ocupada vida quotidiana, nem sempre conseguimos pensar, analisar e sentir todas as nossas vivências, especialmente quando existem conceitos que nos são tão naturais, que raramente os questionamos. Não pensamos neles enquanto geradores de mal-estar, no sofrimento ou problemas que nos podem criar. 
 
Em sessão, frequentemente abordamos as diversas concepções e ideias de “Família”. Vamos muito além das ligações “de sangue” e envolvemos os diversos papéis da família e dos seus elementos. “Família” não apenas como pais e irmãos, cuidadores ou educadores, mas como um conjunto de pessoas que nos influenciam desde o início da nossa vida. Aliás, o conceito de família está tão entranhado na nossa cultura que, mesmo a ausência de alguns dos seus elementos é igualmente importante e nos podem condicionar no futuro. 
 
Mas, o que é a família?
Este conceito vai muito além do conjunto de pessoas com ligações afectivo-emocionais, biológicas, ancestrais ou até legais. É o nosso mundo… o nosso primeiro mundo. 

Culturalmente existe a expectativa de associar a família à transmissão de valores, momentos de alegria, pessoas especiais com a função de nos proteger, dar apoio emocional, ajudar na resolução de problemas ou de conflitos. Vemos a família como um sistema “colado” por laços morais (e materiais) e a relação familiar como sendo criadora de uma base de valores que persistem por muitos anos na nossa vida.

Mas, em muitos momentos, a família não consegue cumprir essa expectativa e acaba por ser o gatilho de muitas tristezas, a origem de alguns dos nossos traumas e geradora de muitas das nossas limitações ou problemas de comunicação.

Mas devemos olhar para a família como uma parte integrante de nós, formadora da nossa personalidade e que nos pode ajudar no nosso processo terapêutico. Para isso acontecer, é importante aceitarmos essas “limitações familiares” e devemos ver a família como um “ser” dinâmico, em constante transformação.

Por exemplo, é comum percebermos a estranheza que o papel de uma recente avó/avô (geralmente mais cuidador e afável), muito diferente do papel de mãe/pai (tipicamente mais exigente e crítico) gera nos diversos elementos familiares. Mesmo na relação com os vários filhos e na relação entre os irmãos é visível essa dinâmica de transformação.

É fundamental revisitar, analisar e perceber que comportamentos, reações e comunicação intra e interpessoal, existem na nossa família, além claro da forma como o “clã” se relaciona com a sociedade, pois isso influencia a forma como vemos o nosso “mundo”, o mundo fora da família e como relacionamos todas estas pessoas. 

Na verdade, as expectativas culturais sobre o papel das famílias podem ser geradoras de frustração e outras emoções negativas, quando olhamos para a nossa família e percebemos que nos falharam a providenciar qualidade de vida, na ajuda a manter a saúde (física e mental), sendo um recurso natural para lidar com as situações potenciadoras de stress associadas à nossa vida na comunidade.

Quando tal não acontece ou não sentimos a família como providenciadora de segurança ou bem-estar,  ou simplesmente não é contextualizado o comportamento do sistema familiar, podem surgir situações que acabam por resultar num baixo auto-conceito, sentimentos de vulnerabilidade, padrões de comunicação desajustados ou expectativas exageradas para a própria pessoa ou para os outros. 

Lembramos que podemos criar um maior espaço para o sistema familiar – faz parte do processo de independência e autonomia.

É importante percebermos que a nossa família não tem que ser um factor de limitação para o nosso futuro, uma inevitabilidade para a tristeza. Também não podemos esperar que a felicidade e equilíbrio que a nossa família de origem, surgiu sem esforço ou trabalho. Tudo isso é uma aprendizagem, um processo trabalhoso e um esforço.

Somos nós que criamos a nossa família nuclear, com as suas idiossincrasias. Podemos recriar e repensar as suas regras, organizar os seus valores e transformar o nosso tipo de comunicação. Não temos que ser, nem devemos ser, uma cópia da nossa família de origem. 

Uma coisa é certa, a família estará sempre em constante transformação. Seja pela maturidade ganha pelos seus elementos, seja pelas pessoas que vão sendo acrescentadas ao sistema ou pelos desafios que vão surgindo.

E essa transformação pode e deve ser vista como um momento de crescimento, de partilha emocional e de renascimento pessoal a cada novo ciclo de vida.

É por tudo isso que a família é tão focada no processo terapêutico.

Gustavo Pedrosa, Psicoterapeuta na Pessoalmente ®