05 May Dia da mãe
Celebrar o dia da Mãe é celebrar tudo o que a vida tem de mais incrível e ao mesmo tempo de mais difícil. Escrever sobre isso no dia de hoje é também a maior honra mas ao mesmo tempo a missão mais impossível. Vou tentar fazê-lo com humildade e autenticidade.
Acredito que ser mãe é algo muito maior do que o que se encontra na literatura, se tenta explicar na teoria, se romantiza em poemas e canções, se idealiza em marketing ou redes sociais. Ser mãe é um abraço e um murro no estômago, uma brisa sublime e um tornado violento, um calor de verão e um gelo de inverno.
Ser mãe é ter este estatuto ecoado em voz aguda durante o dia vezes sem conta, que representa o quão importantes e amadas podemos ser na vida de alguém, mas também o quão, por vezes, pouco espaço nos resta para outra coisa se não isso, MMMããããeeee!
Ser mãe é sentir culpa! O tempo todo. Culpa de não ser suficiente, de não estar tempo suficiente, de não cozinhar saudável o suficiente, culpa de querer estar sozinha, culpa do que disse, do que fiz, do que não fiz, do que devia ter feito…
Ser mãe é aceder aos recursos de amor próprio que nos foram legados na nossa infância e pelas nossas próprias mães, e mesmo sem nenhuns recebidos, ser capaz de amar e multiplicar amor para dar, ou vê-lo a escassear dentro de nós.
Ser mãe é estar polarizada. Polarizada connosco mesmas, com tantos lados nossos que querem dizer, ser e fazer coisas diferentes ao mesmo tempo. Por vezes polarizadas com um pai e companheiro(a), com uma família, com o trabalho, e até a com a sociedade.
Ser mãe é celebrar ganhos inimagináveis na nossa vida, mas também abraçar perdas consideráveis das quais muitas mães receiam falar ou nomear, por culpa do julgamento dos outros. Perdas de um corpo que tivemos e muitas vezes não iremos voltar a recuperar, perdas do tempo que tínhamos e que agora parece fugir dos nossos pés, perdas de viajar só com uma mochila às costas, perdas de sermos a pessoa mais importante nas nossas própria vidas ou até na do nosso(a) companheiro(a), perdas de deixarmos de ser só filhas, tias, irmãs ou amigas, perda de prioridades antigas, completamente baralhadas e redefinidas
Ser mãe é tudo isto e muito, muito, mas muito mais…. E ironicamente, ser mãe pode não ser nada disto, porque a maternidade é única, intransmissível, individual, e só uma mãe saberá o que está a viver neste momento.
Para quem a maternidade é um pouco disto quero só reforçar que acredito que é preciso libertar as mulheres e mães da culpa constante de não serem tudo, pois o tudo de ser mãe, nos nossos dias, é mais que demasiado. Vivemos com a informação que os nossos pais não tinham e sem o suporte da “aldeia” que os ajudou a criar-nos.
É preciso ajudar as mães a compreender a realidade exigente em que vivem, a auto exigência, as expectativas…
É preciso ajudar as mães a aceitar que é possível amar incondicionalmente um filho e sentir que os momentos vividos com ele são os mais especiais e felizes, com a mesma intensidade do que ansiar por momentos sozinha, com as amigas, com o(a) companheiro(a) ou até a trabalhar. Que é natural poderem ir comprar pizza para o jantar, ir ao cabeleireiro, à massagem, ao ginásio, deixar a casa de “pantanas”, deixar os filhos com os avós ou a babysitter.
É preciso relembrar as mães que só se dá o que se tem. E tantas de nós viveram uma vida com tão pouco. Pouco amor, pouca compreensão, pouca aceitação, pouco apoio… O que melhor podemos oferecer aos nossos filhos é a nossa saúde, física e mental. E muitas vezes temos de tirar tempo com eles para poder estar mais presentes no tempo deles.
Mesmo as experiências mais dolorosas podem ser ultrapassadas da melhor forma, se não as vivermos sozinhas e acredito que paradoxalmente, mesmo com um bebé nos braços 24h, a maternidade pode ser uma experiência muito solitária para algumas mulheres.
Assim sendo, espero que, com toda a humildade com que escrevo esta palavras, celebrando este dia tão importante, as mães se possam sentir menos sós, sabendo que aqui, também está uma mãe que sabe que hoje, e sempre, ser mãe é algo que só nos sabemos como é.
Espero que este sentimento tão único não tenha de ser solitário e que possamos acreditar que existem outros que nos podem ajudar.
Um abraço de uma mãe para todas as mães!
Margarida Coimbra Marques, Psicoterapeuta na Pessoalmente ®