27 Jul A nova geração de “pais conscientes” da Parentalidade Consciente

A abordagem que traz mais consciência e respeito na criação dos filhos, traz também algum (muito) sentimento de culpa às novas gerações de “pais conscientes”. Felizmente, vivemos tempos de parentalidade, onde se perspectiva na liderança processos de autoconhecimento e de reflexão dos nossos próprios padrões de comportamento, crenças e valores, enquanto pais, em prol de uma conexão mais autêntica e empática com as nossas crianças. Mas, em consulta acompanho também a quase-dramática vivência de culpa que estes mesmos pais, filhos de uma parentalidade não tão consciente, vivem.

Na parentalidade consciente, buscamos entender e atender às necessidades emocionais físicas e sociais das crianças promovendo e permitindo-lhes um ambiente seguro de amor e respeito. As crianças têm os seus próprios sentimentos, desejos e autonomia e merecem este desenvolvimento saudável e bem-estar integral que a psicologia e os avanços da neurociência nos tem trazido. Arrisco-me a dizer que hoje conseguimos mesmo ser melhores pais, também porque a ciência e a ausência de outras circunstâncias de sobrevivência estão muito acauteladas (sobretudo no mundo ocidental).

Mas hoje, a comunicação não-violenta (um dos grandes pilares da parentalidade consciente) é sobre ouvir e presenciar ativamente os sentimentos e necessidades dos pais, enquanto pessoas a precisar de expressar de forma clara e empática os sentimentos próprios sobre as soluções negociadas que tentam encontrar para resolver os conflitos familiares com os seus filhos. Somos de gerações diferentes, mas somos sobretudo resultado de parentalidades diferentes. Crescemos maioritariamente na alçada de um estilo mais autoritário, absorvemos esta referência de alguma forma e tornamo-nos pais entre o medo de perder a autoridade e controlo na educação versus a necessidade de olhar para as crianças como pessoas com as suas vontades próprias e necessidades. Isto é um desafio capaz de nos dar muitas dores de cabeça com frustrações, medos e culpas.

Este equilíbrio entre a imposição de limites e regras com a valorização da autonomia e da individualidade das crianças, num contexto muitas vezes de elevada exigência profissional e sem grandes apoios, ou rede familiar, é a grande conquista na parentalidade. Estratégias como a negociação e o estabelecimento de limites claros e consensuais, o estímulo para a resolução de problemas e a promoção do diálogo para resolver conflitos vale para os filhos, mas também para os pais que estão muitas vezes sozinhos e, claramente, precisam de apoio para navegar nesta missão educativa. A autorreflexão e o autocuidado são ferramentas fundamentais para o cuidado dos seus filhos.

Os pais de hoje são mesmo uns heróis a fazer o que melhor sabem para elevar a parentalidade a um nível que adiciona ao amor incondicional, uma presença reflexiva e intencional. Assisto todos os dias, na minha consulta, aos relatos de pais ativamente envolvidos na educação dos seus filhos, tentando compreender e atender às suas necessidades emocionais físicas e sociais, sem muitas vezes grande entendimento dos seus percursos enquanto filhos e do esforço hercúleo que fazem para se adaptar às novas exigências. E, por isso, hoje as minhas palavras de apreço vão exatamente para estes pais, cuja comunicação aberta e honesta, esforçada para ouvir empaticamente os seus filhos, valorizar as suas opiniões e sentimentos, não lhes permite muito espaço para se ouvirem a si, às suas dificuldades com tempo e paciência, para responderem às exigências de um mundo que se rege sempre pela perfeição e imediatismo.

É um caminho ainda longo e um processo contínuo de aprendizagens e desenvolvimento pessoal dos pais nesta construção de uma relação positiva e significativa com os seus filhos. É um caminho tão estimulante e encorajador para as próximas gerações, quanto desafiante para estes pais que vivem as dores de crescimento de quem está na travessia de uma transição. Os pais são seres em desenvolvimento, com as suas muitas capacidades de exploração e experimentação, mas também limitações próprias e erros. Tudo isto está bem. É o amadurecimento da parentalidade consciente em cada um de nós que a pratica… É, por isso, urgente sermos pacientes e compassivos para com as formas da parentalidade.

Vera Lisa Barroso, Pessoalmente ®

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