Pessoalmente | A multiplicidade de ambientes humanos e a impossível despersonalização da guerra
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A multiplicidade de ambientes humanos e a impossível despersonalização da guerra

 

Neste dia mundial do meio ambiente, gostaria de dedicar algumas palavras aos diferentes ambientes sociais, culturais, históricos e políticos que nos envolvem. Família, escola, trabalho, amigos… todos estas instituições e ambientes contribuem e influenciam-nos determinantemente enquanto pessoas, seja como contexto de rede de apoio, seja como contexto de aprendizagem e desenvolvimento humano. E num momento histórico onde o mundo acompanha mais uma atrocidade e golpe à Humanidade, não podemos dar por garantidos aqueles que deveriam ser os direitos de todos os seres humanos, em todos os ambientes que nos envolvem.

A família, muito mais do que um berço de laços de consanguinidade, é um sistema social responsável pela transmissão de muitos dos valores, crenças e significados presentes e necessários à nossa sociedade de pertença; uma primeira lente sobre o mundo que nos rodeia, uma primeira mediadora entre nós e os outros… entre nós e a cultura e, desejavelmente, a nossa primeira referência de amor incondicional. As figuras parentais emergem neste contexto com grande influência na construção do autoconceito, valor pessoal e autoestima e os acontecimentos/ experiências familiares como oportunidades de expressar e gerir emoções, construir repertórios comportamentais, de ação e resolução de problemas e assim lidar com a diversidade e adversidade da vida, preparando os indivíduos como cidadãos e protagonistas da história e da sociedade.

Como todas estas vivências integram a experiência coletiva e individual é também através das interações familiares que se transformam sociedades e os diferentes ambientes/ sistemas sociais futuros. No entanto, é fora de casa que substanciamos, testamos e desafiamos a experiência acumulada e as formas de pensar, agir e interagir no mundo.

Apesar dos esforços globais na promoção de ações de continuidade e homogeneidade social, há barreiras que geram descontinuidade e conflitos na integração entre microssistemas, nomeadamente a consideração das diferenças culturais, a formação para cidadania e a valorização de ações e de decisões coletivas. Neste caso, o cenário político passa a exercer uma influência preponderante para a solução das crises, que excedem o nosso dia-a-dia.

Mas nem sempre a ciência política respeita a preciosa natureza humana (na sua desconformidade biológica, psicológica e social), impondo uma busca de grandiosidade e poder individual por meio de controlo, manipulação e imposição à comunidade. Fomos inesperadamente assaltados este ano por uma guerra que é difícil de explicar às crianças (e aos adultos). Infelizmente não é única neste mundo onde vivemos tão desrealizados, mas é demasiado próxima para nos conseguirmos proteger de sentir.

Casas bombardeadas, famílias destruídas, vidas perdidas, perdas irreparáveis em todas as dimensões… nunca mais seremos os mesmos depois destas chocantes imagens de violência e destruição. Será sempre uma tragédia humana mesmo que voltemos a sorrir e a experienciar felicidade. Existem marcas que farão, para sempre, parte da nossa história, como esteio de honra à coragem e à força que a vida por vezes nos exige.

O medo, a angústia, a incerteza, a tristeza, a injustiça, o pânico, a desesperança, o heroísmo, imagens e sons que ficam presos na mente… quantas texturas pode assumir o sofrimento de um ser humano que vive tal violação e violência na sua própria pele?

Existe muita sabedoria na biologia das respostas de sobrevivência, mas assim que esteja garantida a segurança dos sobreviventes é preciso ajudar a regular as respostas do corpo, equilibrando-o da sua hiper ou hipoactivação.

Como podemos nós ajudar a partir deste lugar de vantagem que habitamos? É preciso lembrar estas pessoas da sua coragem e de todos os recursos internos que possuem. É preciso nomear e acolher as dificuldades que estão a viver. É preciso ajudá-las a criar distâncias seguras dos seus pensamentos. É preciso ajudá-las a diferenciar a vida que podem construir dos pensamentos que podem destruir. É preciso oferecer abrigo, presença e compaixão a esta mistura de sofrimento e força que vivem. É preciso ajudá-las a encontrar esperança dentro de si, mesmo durante a guerra.

É esta a nossa responsabilidade, individual e colectiva, enquanto pessoas e cidadãos, nas nossas famílias e no mundo.

Vera Lisa Barroso, Pessoalmente ®

 Esperemos que tenha gostado e que o tema possa servir curiosas reflexões, bem como explorações internas/ externas!Partilhe com (ou identifique no texto) todas as pessoas a quem sinta fazer sentido esta leitura… Comente sobre a multiplicidade de ambientes humanos e a forma como tem vivido a guerra ou deixe-nos sugestões de tópicos relacionados. Todos os contributos muito bem vindos!